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A onda Veggie

Antes estigmatizado, o vegetarianismo ganha cada vez mais adeptos e lugares para comer em São Paulo, seja pelo estilo de vida mais saudável, seja por motivos de ética e política. 

 

 

Por Nathalie Bernasconi e Sean Farinha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

     A mudança de comportamento alimentar dos paulistanos é cada vez mais evidente. Viver numa cidade poluída e com trânsito caótico pode ser a antítese de qualidade de vida, mas encarar um cotidiano cada vez mais estressante na grande metrópole motivou vários de seus habitantes a reverem seus hábitos alimentares.

 

     Cortar a carne vermelha se tornou uma necessidade primária para várias pessoas. No entanto, a preocupação com a saúde não é a única motivação para vários paulistanos mudarem suas alimentações: para os vegetarianos, cortar carne de animais ou qualquer tipo de derivado destes é muito mais que disciplina alimentar; é um estilo de vida.

 

    Pedro Mortz, 26 anos e vegano convicto, afirma que, muito além do valor nutritivo superior, da otimização da alimentação como fonte de energia ou ainda da ética envolvida no sacrifício animal para o consumo humano, seguir o modo de vida vegano é um ato político. “Um dos maiores motivos para não comer carne, além da questão ética de não torturar os animais, é não estimular o desmatamento causado pela pecuária”, diz ele, que ainda complementa: “acredito que, consumindo produtos orgânicos, não-industrializados, nós contribuímos para a agricultura familiar ao invés de estimular os grandes produtores”, conclui, afirmando que a produção alimentícia de pequenos produtores é feita com maior cuidado e respeito ao consumidor.

 

    Seguindo a mesma linha de Pedro, a vegana Carol Freitas, de 22 anos, explicita um dos pontos mais defendidos por pessoas de base alimentar alternativa a proteína animal, que é a não naturalidade de alimentos industrializados, inclusive oriundos da pecuária: “alimentos industrializados não são naturais, e a quantidade de gente com diabetes é a prova disso”, diz ela. “Comer carne não é uma questão de sobrevivência, mas sim uma questão cultural”, conclui Carol, defendendo assim o viés político de ser vegetariano/vegano. Tal tópico é considerado muito polêmico, já que entra na questão de se o consumo de carne animal é instintivo do ser humano ou um costume adotado artificialmente por este. Segundo Carol, da parte dela, proteína animal não faz qualquer falta: “alguns vegetarianos falam que, hoje em dia, nosso corpo não está acostumado a uma alimentação tão carnívora quanto já foi”, complementa ela.

 

     Pedro e Carol representam uma grande mudança de mentalidade que, apesar de não ser nova, ganha cada vez mais espaço, principalmente entre os mais jovens. Tal mudança é perceptível pelo grande leque de opções vegetarianas/veganas hoje na cidade de São Paulo, um negócio que não para de expandir. É o que defende Raimundo de Moura, gerente do restaurante de comida macrobiótica Integrão. Nesse nicho há quase trinta anos, Raimundo disse que, apesar da ampliação da concorrência na última década, o recente crescimento na procura por restaurantes livres de proteína animal fez com que o negócio viesse mais a tona, trazendo assim uma nova e diferente legião de fregueses: “quem consome a alimentação macrobiótica, normalmente, é um público mais jovem, conscientizado, menos agressivo”, diz ele, que atribui comportamentos hostis à má alimentação, principalmente a que tem carne animal como base. Raimundo ainda explica a diferença da alimentação macrobiótica, ainda é pouco conhecida, da vegetariana. “A alimentação macrobiótica tem como base raízes, grãos, legumes e leguminosas, e por isso é melhor quando levada a sério e com o acompanhamento de nutricionista”, diz ele, que ainda enfatiza a importância dos exercícios físicos para esse tipo de alimentação fazer efeito.

 

     Já o restaurante Veggies na Praça apresenta uma proposta diferente: levar a comida vegetariana e vegana aos quatro cantos de São Paulo. Por dois anos, o Veggies teve um endereço fixo em frente à Praça Buenos Aires, entretanto, em dezembro do ano passado decidiu investir em um food truck e percorrer as ruas da cidade. A sócia-proprietária Agatha Faria explica que após a mudança, o  número de seguidores interessados no restaurante vegetariano aumentou de 6.000 para quase 10.000 em apenas alguns meses.

 

    De acordo com Agatha, o fato de trabalhar com um food truck gerou grande flexibilidade, além de proporcionar uma relação mais próxima entre clientes e funcionários. “Existe a liberdade de escolha diária dos locais em que vamos levar nossa cozinha móvel para atender as pessoas onde elas estão e não esperar que elas venham até o seu ponto. Isso nos permite estar presente em locais de grande concentração de pessoas como shows, feiras e parques”. Só nessa semana, o truck esteve presente em bairros como Jardins, Pinheiros, Higienópolis e até no Vale do Anhangabaú.  

 

    Segundo a sócia, as redes sociais são essenciais para a divulgação do restaurante móvel. Para manter a clientela, é postado semanalmente o roteiro e o cardápio que será oferecido. “Nossa página do facebook e nossos perfis no Instagram e Twitter foram essenciais para nossa comunicação na mudança do Veggies na Praça e conseguimos gerar uma expectativa alta entre os clientes e pessoas interessadas por comida vegetariana e vegana”, afirma.

 

Food truck do Veggies na Praça estacionado em frente à Praça Buenos Aires, no bairro de Higienópolis

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