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Sukiya: o fast food japonês

 

 

Por Lanna Dogo e Letícia Sabbag

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Estar com fome de madrugada não é uma novidade para ninguém. Nessas horas, nada melhor do que um belo hambúrguer de fast food para saciar a vontade quase insana de comer. No entanto, o lugar mais próximo de mim era a Temakeria Yoi!. Por que não? O meu prato era um pequeno cone preto crocante com salmão temperado dentro, o suficiente para me matar a fome, e me alimentar de forma saudável e consideravelmente barata - eu gastei apenas treze reais com o chá gelado que pedi. Será essa a chave da longevidade dos japoneses?

 

Karen Sayuri, que tem parentes no Japão e trabalha em um restaurante japonês próximo de casa, comentou que temaki não é tão fácil de se achar pelas ruas de Tokyo. O temaki é o fast food japonês, não? Pelo menos em São Paulo, parece ser. A definição dessa palavra, fast food, é comida rápida e barata. Como exemplos, Mc Donalds, Burger King, Subway. Quem come ou já comeu nessas redes de comida sabe que o sabor dos lanches e batata frita é inversamente proporcional à saúde. O temaki, apesar de ser feito na velocidade de um hambúrguer, tem benefícios nutricionais: o salmão é rico em potássio e fósforo, minerais que auxiliam no fortalecimento dos músculos, equilíbrio e aumento do metabolismo, além do funcionamento do cérebro.

 

Com essa pulga atrás da orelha, dei início a uma pesquisa sobre a saúde no Japão. E vi que a OMS divulgou ainda esse ano que a expectativa média de vida das mulheres japonesas é de 87 anos, mantendo o primeiro lugar no mundo. Quer dizer, os pratos do Japão que vieram para o mundo gastronômico de São Paulo, mesmo quando são rápidos assim como do McDonalds(e supostamente prejudiciais à saúde porque é o que se espera de comida barata e servida em poucos minutos) contradizem o parâmetro de que fast food é “porcaria”?  

 

Começa assim a minha jornada pelo bairro da Liberdade. Sempre tenho a impressão de respirar um ar “mais oriental” naquele lugar. “Estação Liberdade”. Saio em frente à Rua Galvão Bueno, decorada com as luminárias vermelhas. Muitos olhos puxados passeando pelas ruas - em sua maior parte tem a aparência saudável, leve. Pela manhã, o fluxo de jovens é maior, geralmente andam apressados pela Galvão Bueno (estariam indo para o trabalho? Escola? Universidade?). À tarde, no entanto, o número de idosos era maior, andavam vagarosamente ou entravam nos supermercados orientais mais próximos (só de percorrer inteiramente a rua Galvão Bueno eu contei cinco ou seis). Policiais nas esquinas da Avenida Liberdade, da Rua Galvão Bueno com suas paralelas, em grupos de dois ou três.

 

Inclusive, ao sentar para tomar o velho pretinho por volta das 16h - horário que o sono fala mais alto - em um café com o jeitinho do Casa do Pão de Queijo ou Rei do Mate na Rua Galvão Bueno, não me senti totalmente em São Paulo. Um casal jovem à direita da minha mesa, gesticulando energicamente e falando em (o que creio ser) japonês. Três idosos à frente, não conversavam em uma língua que reconhecesse. Uma moça lendo uma revista à esquerda, tudo escrito em japonês. A minha única certeza de que continuava na capital paulista é o fato de ouvir a discussão, na mesa diagonal à minha, sobre uma reunião de trabalho de dois homens, vestindo social e falando (para minha surpresa e alívio) em português. É possível que vários bairros de imigrantes proporcionem experiências como essas. Ou talvez seja característica específica do da Liberdade.

 

Contudo, voltemos aos momentos antes do café. Saindo do metrô, já logo de cara vejo uma loja de doces tradicionais. Nada de Elma Chips, Pringles ou outras batatas que deixam a mão brilhando. Eram salgadinhos nutritivos, naturais, secos feitos de soja, arroz ou gergelim. Muitos não iriam gostar pelo sabor que não é tão forte quanto ao sal de outras batatas, mas a lista de valores nutricionais faz qualquer um dar o braço a torcer e provar essa iguaria.

 

E quanto à bebida, chá gelado, chá de vitaminas, sucos de todos os sabores escritos em japonês, e outras coisas se encontram nas prateleiras todos amarrotadas umas nas outras. Cláudia, filha de terceira geração da família japonesa aqui no Brasil, confessa que gostaria de ter hábitos mais saudáveis assim como seus avós e bisavós. A moradora local, que se encontrava fazendo compras na loja, confessa que não gosta dos chás de vitaminas, pois são muito concentrados. “Eles tem gosto de mato” e ainda revela que prefere o bom e velho refrigerante.

 

Ao conversar um pouco mais com Cláudia, digo a ela sobre meu interesse pela comida japonesa de origem. Com isso, ela me entregou três endereços escritos em um guardanapo, o qual guardei com todo o cuidado. “Cada um deles é um fast food japonês”.

 

Tive a oportunidade de conhecer dois indicados. O primeiro é o Sukiya, fica na Rua Vergueiro, perto da estação São Joaquim. O lugar é bem aconchegante - decorado em bege e vermelho - e o serviço extremamente rápido. Dos atendentes, apenas um japonês, o menino jovem do caixa. Pergunto para ele qual é o prato mais pedido, e ele fala como se já estivesse na ponta da língua, como se ele sempre desse essa dica. “Guydon”. Próximo passo era fazer o pedido, e foi o que fiz. Ao me direcionar a mesa e sentar, mal tive tempo de me ajeitar e logo já recebi uma bandeja com o prato. Três minutos exatos. Agilidade eles seguem à linha. Notei que os outros também recebiam os pedidos na mesma rapidez, mesmo não sendo do Gyudon. É carne de boi, mas tem um gosto indescritível. O gengibre com certeza dá um toque especial, sem contar nos seus benefícios a saúde. Além disso, o Sukiya tinha pratos no tamanho P, M, G e GG, com uma diferença mínima de preço e muita de tamanho.

 

Agora vamos ao significado de fast food e se ele se aplica ao Sukiya. Ao chegar, você pode tanto pagar no caixa e aguardar ou pedir na mesa. Ele tem vários balcões para fazer o pedido, lembrando do esquema das redes Burguer King ou Subway. O garçom, Marcos, diz que isso foi adaptado, e que a maior parte dos japoneses que tem mais contato com a cultura do Japão ainda realizam o pedido no caixa. O preço é adorável para os brasileiros que sempre festejaram com as esfihas do Habibs, seis reais por uma cumbuca razoável de arroz, molho especial da casa e seis coxas de Gyudon. Mas sem falar de preços, o prato é saudável, balanceado. Não tem feijão, até porque a leguminosa de primeira escolha dos japoneses é a soja, mas quem precisa de feijão com um prato daqueles?

 

E isso me fez refletir sobre o que nós comemos e o que eles comem. Japoneses, como já dizem, são reconhecidos pela longevidade, e mais do que isso, é pela qualidade de vida. Comida balanceada, mesmo as mais baratas e rápidas. Proteína, fibra, carboidrato e ainda ganha umas vitaminas de quebra.

 

O segundo da lista era o Ebis, localizado na Galvão Bueno. Decidi me aventurar mais uma vez, em plena terça feira, às duas horas da tarde. No caminho percebo que o número de mendigos na rua é menor nos períodos entre uma e cinco da tarde. Principalmente na Avenida e na Praça Liberdade.

 

A casa não estava cheia, vários garçons próximos à porta. Dois andares, o bar logo à esquerda da entrada, o balcão para pagamento à direita. O ambiente era estreito porém comprido, luzes a meia intensidade, decoração oriental por todos os cantos. Não tinha balcões parecidos com o do Sukiya, assemelhava-se mais a um restaurante do que a um fast food padrão. Quando entrei, três atendentes me cumprimentaram em português e japonês. Senti como se fosse alguém de importância pública. Resumindo o atendimento, simpatia e agilidade.

 

Primeiro você faz e paga o pedido no caixa, recebe a ficha do pedido, pega chás, molhos – como o modo padrão. Cinco minutos depois, o prato Curry Udon estava na mesa. É um macarrão mergulhado em caldo saboroso de algas e peixe, rocambole de ovo cozido e o famoso tempero curry. Uma mistura de leveza do macarrão e o caldo com a pimenta do condimento, uma explosão de sensações com o macarrão morno derretendo na boca. O preço dos pratos variava entre dezenove e vinte cinco reais, mais caro se comparado ao Sukiya, porém as mesmas características: atendimento rápido como Burguer King pratos quentes parecidos, pratos frios inexistentes, a não ser por saladas.

 

O Ebis e Sukiya não estavam na avenida principal, como o Subway e Habibs, por exemplo. E definitivamente não eram comidas gordurosas. A jornada permitiu a reflexão: esse tipo de fast food do Japão é uma ótima opção para quem vive na pressa, mas não quer correr o risco de entupir as veias ou ter pressão alta. Para quem não abre mão de uma refeição completa em termos nutricionais ou prefere não sobrecarregar o estômago.

 

Com essa perspectiva, farei mais escolhas alimentares inspirada nas japonesas. Não que eu vá abandonar os meus velhos abusos ou bons hábitos, mas saber que é benéfico para o organismo e comer quando puder – ainda mais sendo barato. Saio da Liberdade agora reparando em cada alimento que como, seja um chiclete importado de 50 cm ou um salmão, e penso quando vou voltar para experimentar um novo prato.

 

 

 

 

 

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