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Com vocês, o verdadeiro Bauru!

 

Por Flávia Piza

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pão, presunto, queijo e tomate. Para aqueles que acreditam seriamente ser essa a receita original do sanduíche Bauru, aí vai um aviso: o lanche não tem presunto em sua composição e seus ingredientes vão muito além do simples queijo e tomate.

 

Criado pelo então estudante de Direito Casimiro Pinto Neto, o lanche Bauru era feito em um restaurante de São Paulo. E o responsável por trazer o sanduíche para a cidade natal do estudante e imortalizar a verdadeira receita do Bauru foi o “Zé do Skinão”, o senhor José Francisco Júnior. Dono de um salão de festas e de uma lanchonete, o Skinão, o “Seu Zé”- como era chamado - deu alma ao sanduíche ao criar um conceito de originalidade que vendeu a imagem da cidade junto.

 

Falecido há 11 anos, coube ao seu filho Marcos a função de perpetuar a história e a receita do Bauru para as futuras gerações. E foi na esquina mais famosa da cidade que o Marquinho, como é conhecido em sua cidade, cedeu uma entrevista sobre o lanche, o restaurante e a importância de seu pai para a história e o turismo de Bauru.

 

Flávia: Marcos, como surgiu o lanche Bauru?

Marcos: “O lanche Bauru foi criado mais ou menos em 1936 ou 1937, não há uma data certa. Era um estudante de Direito na USP em São Paulo, chamado Casimiro Pinto Neto. E seus amigos o chamavam de Bauru, referindo-se à cidade natal do estudante. Em uma noite, ele chegou em uma lanchonete, que hoje tem 90 anos, chamada ‘Ponto Chic’, e pediu para o cozinheiro abrir um pão francês, tirar o miolo, colocar um pouco de queijo para derreter em banho-maria, algumas fatias de rosbife e de tomate. Quando o lanche ficou pronto, um amigo do Bauru chamado Quico, Antônio Boccini Jr., que era guloso, pediu um pedaço do lanche que tinha acabado de ser criado, falando ‘deixa eu experimentar esse lanche do Bauru’. Esse amigo gostou, e pediu para o cozinheiro fazer um lanche igual ‘o do Bauru’. Aí os outros amigos de Casimiro foram pedindo o mesmo lanche, experimentado e gostando. Com o tempo, o apelido do Casimiro foi associando-se ao lanche, até ficar conhecido como sanduíche Bauru.

 

F: Como que o “Zé do Skinão”, o seu pai, trouxe o sanduíche para a cidade natal do Casimiro?

M: “O meu pai, além do restaurante, tinha um buffet que alugava para festas de casamento, aniversários entre outros eventos. Com isso, ele viajava muito para São Paulo para comprar coisas pro salão de festas e sempre que podia passava no ‘Ponto Chic’, no Largo do Paissandu, para comer o Bauru. E em 1973, ele ficou sabendo que esse restaurante ia fechar. Como lá era o único lugar que fazia o tal lanche, meu pai achou que o sanduíche não podia ‘morrer’. Como sabia a receita, ele resolveu trazer o Bauru para o Skinão. E persistiu nesse lanche, fazendo até um trabalho de marketing porque fazia o Bauru e pedia para os clientes experimentarem o sanduíche. Alguns falavam: ‘Ah seu Zé, mas o lanche Bauru é presunto, queijo e tomate’. E meu pai retrucava: ‘Não! É rosbife, queijo, tomate e pepino’. De tanto ele ‘bater nessa tecla’, o lanche ficou.

Hoje nós estamos com o restaurante Skinão há 42 anos, sendo que há 39 anos fazemos o sanduíche Bauru. É a casa mais antiga da cidade que faz esse lanche. Tem mais estabelecimentos que fazem o Bauru, mas o Skinão foi o pioneiro”.

 

F: É verdade que o senhor pensou em fechar o restaurante depois da morte de seu pai?

M: “Sim, é verdade. Antigamente o Skinão ficava em uma avenida importante do centro da cidade. Pouco antes do meu pai falecer, o movimento no restaurante tinha caído por causa do grande número de assaltos naquela região. O centro da cidade à noite era ‘morto’, e o pessoal tinha medo de ir ao Skinão. E depois veio a morte do meu pai. Foi uma fase muito difícil da minha vida. Pensei em fechar o restaurante e me mudar para Goiânia, mas minha esposa não deixou. Ela disse que eu não poderia jogar todo o trabalho e esforço do meu pai no lixo. Então eu resolvi mudar o restaurante de endereço. E aí eu achei um terreno, em uma esquina mais calma, ao lado de um posto policial, em um bairro nobre da cidade. E a ideia deu certo! Hoje faz dez anos que estamos nesse novo endereço.

 

F: Você acha que o lanche virou um símbolo da cidade?

M: “Com certeza! O lanche, de uma forma ou de outra, divulga o nome da cidade. Ele virou um símbolo da cidade, assim como o estádio Noroeste, o Bauru Basquete e o Centrinho, por exemplo”.

 

F: Existe uma lei, que foi aprovada em 1998, que foi feita para manter intacta a receita original do sanduíche Bauru e registrar o lanche como um produto idealizado por um bauruense. Por que foi feito isso?

M: “Essa lei foi criada com o intuito de mostrar à população como é feito o sanduíche Bauru porque muitas pessoas não seguem a regra. Muitos acham que o sanduíche Bauru é pão de forma – ou pão francês -, presunto, queijo e tomate. E não é! A gente não pode obrigar uma pessoa a fazer uma coisa se ela não quer. Acho que seria bom se todos seguissem a receita original”.

 

F: Por que muitas pessoas colocam o presunto, ao invés do rosbife, como ingrediente do lanche?

M: “Essa troca foi feita porque o rosbife, que é feito de uma forma mais industrializada, não era de fácil acesso às pessoas. Por causa disso, trocou-se o rosbife por presunto, que era muito mais acessível e tão saboroso quanto à carne de lagarto”.

 

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